quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O tempo



Tudo começou naquela sala cheia, quente. Só eu estava de manga comprida e com uma blusa por cima. Eu estava com calor mas relutei. Enfim, isso não importou porque todos estavam buscando algo, assim como o fazem toda quinta-feira, quando saem de suas casas para se encontrar com quem, muitas vezes, nem imaginavam compartilhar um pouco de ar. Por isso acho que ninguém nem se importou com meu calor. Enfim, erguemos os braços e começamos. E a sala enchia a cada minuto. Naquele grupo de oração, quem pregou foi o Alexandre, pela primeira vez abriu a boca sem que fosse para cantar. E testemunhou o que vivera no início daquela semana. A tempestade acalmada... Tempestades. E elas chegam mesmo sem água, mas têm forma e fazem estrago.
Mas o que realmente me chamou a atenção foi que, no fim do grupo, quando estavam todos saindo da sala, olhei para o relógio e estava marcado 20h53'. E eu achava que o grupo havia se prolongado, o horário é até às 21 horas, depois disso, só na outra semana. Logo que fui pedir as horas para outra pessoa, vi que meu celular havia congelado, parou naquela hora. 20h53'. Achei superestranho, mas enfim, aquele celular passou pelas mãos perversas de meu irmão mais novo, que fez tudo que podia com o aparelho. Saímos dali e ficamos até às 23 h30' em um barzinho. Já em casa, demorei para ir ao meu quarto, mas quando fui pela primeira vez liguei para meu noivo, que já estava no milésimo sono. Conversamos um pouco e deixei-o descansar, afinal de contas, seu dia é extremamente cansativo. E quando liguei meu computador, logo depois do banho demorado, vi que a data estava adulterada. Marcava 1 de janeiro de 2002, 2h43' da madrugada. Em um mesmo dia me deparei com duas situações semelhantes. Pode ser coincidência, pode ser Deus me mostrando os números da Megasena, pode ser qualquer coisa, a pilha do computador. Sei que isso me fez refletir sobre o tempo em que vivo, em que estamos vivendo. O cronos nos domina. Vivemos em função das horas: para tudo há uma hora certa, mas não estou falando em Eclesiástico 3, falo que em nosso dia a dia, às 8h30' é hora de trabalhar, 12 horas é hora de ir para casa, 13 horas é hora de levar a irmã para a aula, 13h30 é a hora que entro para trabalhar e, depois, às 18 horas, vou para casa. Às 19 horas tem missa, e provavelmente depois farei algo, que não pode passar das 22h30' sem avisar alguém. E mais tarde que hoje, é hora de dormir. O dia é cronometrado. 
Mas e o tempo de Deus, o tempo da graça? Esse, definitivamente, é um tempo que não marcamos, porque a espera é demorada e a paciência é pouca. Mas e se Deus está querendo dizer que preciso viver melhor meu tempo aqui, porque não vou ter como voltar atrás ou não posso recuperar? Se estou preenchendo meu cronos com coisas erradas e esqueço de esperar o Kairós, que é demorado, porém garantido?
Vejo pessoas jovens morrerem todo dia. Será que elas aproveitaram o que deviam enquanto aqui estavam? Quero aproveitar mais, desfrutar mais, amar mais, viver melhor. Tirar muitas fotografias, rir de coisas sem noção e amar. Quero tratar bem os outros, quero fazer carinho em meus gatos, quero cuidar dos animais. Quero amar. Quero cantar muito, quero melhorar, quero crescer, quero mais. Mas quero não para meu grado ou minha moral, quero para aproveitar melhor meu tempo aqui, para que não tenha perdido tempo. 

Vou pensar nisso muito. Sinto meu coração bater tão forte, que consigo ver meu moletom se mecher. Vou aproveitar a noite e dormir bem, vou fazer meu coração bater mais compassado, no ritmo dos ponteiros do relógio de Deus...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A vitória dos 33


"Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno".